de ontem para hoje

ontem escrevi e foi hoje publicado no ComRegras;

Escrevo na tarde de domingo, resguardado do calor que faz lá fora e na expetativa do que poderá acontecer daqui a pouco, na final do euro 2016, que envolve Portugal e França.
Certamente que como todos, quero que Portugal vença. As hipóteses serão escassas se verificadas pelas diferentes casas de apostas. Contudo, apesar de escassas, existentes. Pessoalmente acredito na vitória de um grupo que sabe identificar diferentes soluções para diferentes problemas. Da mesma forma que tem sabido gerir protagonistas individuais e espírito de equipa, esforço e capacidades individuais com dedicação coletiva. Será, no meu entendimento, a solução possível para um desafio claramente complexo.
Ou seja, em crónica semanal sobre coisas da escola e das aulas, seria quase que incontornável para um português que se preze, não abordar a relação que se pode estabelecer entre o futebol e a escola (a sala de aula). Considero o futebol como metáfora da escola o exemplo mais acabado do que podemos ser em contexto de sala de aula. Tento mostrar.
Num lado o treinador. Motiva, orienta, define estratégias, organiza o grupo em função do que ele considera de cada elemento.O treinador não vai para o terreno de jogo, não marca golos como Ronaldo, nem os defende como Patrício, nem faz passes de magia como Sanches. Mas é ele o principal visado quando as coisas não correm pelo melhor. Mas, na vitória, é mais um dos muitos ouvidos sobre a estratégia, a tática, a organização que levou à vitória.
Neste mesmo lado, temos de tudo. Do guarda redes ao roupeiro, passando por massagistas, terapeutas, cozinheiros e que mais gente que faz uma equipa. É a diversidade e pluralidade de feitios, estilos, ritmos, treinos, condições e capacidades. Tudo e todos que têm de ser geridos em prol de um coletivo, numa primeira instância (e determinante, digo eu) mas também do que cada um é capaz de fazer por si.
Do outro lado, do lado da escola o terreno de jogo é a sala de aula. Um professor, que não faz exames, mas que prepara para eles. Não faz testes, mas tem de preparar o aluno para enfrentar diferentes situações. Um professor perante a gestão de um coletivo de diferentes, heterogéneo, diverso, plural e que só por isso constitui a riqueza daquele grupo. Com interesses, ritmos, dinâmicas diferentes e diferenciados. Todos pretensamente com um mesmo objetivo, o sucesso, ou, pelo menos, o de ultrapassar aquela fase, o de sair daquele momento, de seguir em frente. Por vezes entram em cena os auxiliares. Ensino especial, apoios, tutorias, terapeutas, mediadores, entre todo um vasto corpo de profissionais que há coisa de 20 anos frequenta a escola e auxilia na ação educativa.
Entre futebol e sala de aula há todo um campo de semelhanças e continuidades que pode ser útil para explicar a alteração de sentidos (educativos e escolares) verificados entre uma geração de ouro, aquela mesma que foi vice campeã  esta que joga hoje (ontem). Entre uma e outra não existe continuidade nem semelhanças de estrelas individuais (Ronaldo já lá estava e destaca-se em absoluto, mas falta um Rui Costa, um Pauleta, um João Pinto, entre outros que não têm comparação). No entanto acredito muito mais nesta geração. Acredito pela sua resiliência, pela sua persistência, pela estratégia organizacional que faz com que não tivéssemos jogado bonito mas que nos levou (pelo menos) à final.
A sala de aula pode e deve ser esta persistência, esta adequação entre protagonismos individuais, fruto de interesses e objetivos, e um coletivo que se afirma. Pode e deve passar pela sala de aula o saber competir, trabalhar em equipa, definir e alcançar objetivos. Deve e pode passar pela sala de aula o papel de um coletivo feito de muitos de nós.
Acredito, sem ser pessoa de fé, que Portugal ganhou.

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