coisas da tradição

estou (grandemente) certo que caso se pergunte a uma qualquer pessoa se as coisas mudaram muito ou pouco desde, por exemplo, o início do século, só para arranjar uma data redondinha, a grande maioria diria que sim;

e diria que sim, que (quase tudo) mudou sem pestanejar, sem perguntar em que áreas, qual a percepção de mudança, quais os critérios dessa ou para essa mudança;

pois é, contudo ouvi há dias daquelas coisas que mostram que apesar do que possa parecer, da ideia que cada um de nós pode ter sobre a mudança (e restrinjo-me a dimensões sociais e profissionais), como persistem (e se mantém) pequenas coisas que fazem grandes diferenças (e dão conta da estabilidade, da longa duração);

ouvi uma senhora, toda bem posta e com enormes responsabilidades na vida democrática nacional, que um estetoscópio é instrumento de médico e não de enfermeiro;

a enfermeira cá de casa não disse, mas estou certo que terá desejado à senhora que quando fosse vista por um enfermeiro que lhe enfiasse o estetoscópio pelo dito cujo, de modo a perceber que também é instrumento de enfermagem;

quero com este exemplo dar conta da teimosa persistência das coisas, mesmo que possamos imaginar, dizer e afirmar que tudo muda e mudou;

há coisas que mudam da boca para fora, mas que, cá dentro, continuam exatamente na mesma - exemplos, escola primária, a escola é diferente, os valores mudaram, and so on...

são coisas da tradição onde é possível perceber que a tradição, apesar do dito, ainda é o que era...

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